Sopros do coraçao

Wednesday, February 22, 2006

silêncios

Acredito que a verdade reside muito mais vezes no silêncio do que nas palavras, por mais belas e justas que sejam, mesmo quando voam do coração dos poetas para o coração do papel e ficam ali a dormir, à espera que alguém as apanhe.
Sou de poucas conversas e prefiro falar do mundo com ironia do que dissertar sobre o que me forra a alma, porque quem me conhece consegue ler nela tudo o que precisa e além disso, sem palavras nunca há equívocos. Tenho mãos e olhos e tempo para aqueles que amo e quando se ama alguém é como se nos nascesse um néon na testa, maior e mais brilhante do que o do "Bellagio" em Las Vegas, uma luz serena, quase divina, que nenhum curto-circuito consegue apagar.
O amor ao silêncio vem-me da infância, quando brincava anos a fio com o Lucas, um dos seres mais notáveis e superiores que conheci. Era um rafeiro alentejano de olhar vivo e bom porte que corria como um leão e brincava comigo com uma criança. Sabia sempre qual era o seu lugar e usava o seu charme canino para conquistar os humanos com grande talento e muita discrição. E nunca precisámos de conversar. Às vezes, muito poucas, eu dizia-lhe duas ou três coisas que me preocupavam e ele respondia-me com um olhar ou um suspiro e eu percebia o que ele me queria dizer; que o mundo poder ser um lugar difícil, mas, se formos bons, a vida traz-nos as pessoas certas que nos podem proteger e cuidar de nós. E que o importante é não complicar, ter tempo para descansar e brincar, seja qual for a nossa idade ou profissão. O Lucas ensinou-me a amar o silêncio e a respeitar o silêncio dos outros. Mas também me ensinou a atacar de forma letal os meus inimigos, a ser grato a quem me quer bem e a lamber as feridas longe dos outros. Morreu envenenado e deixou um vazio na minha vida.
Nunca esquecemos aqueles que amamos, nunca deixamos de amar aqueles que nos amaram, nunca perdemos a sabedoria que nos legaram, nunca deixamos de ter saudades daqueles que mudaram a nossa vida. O Lucas tinha razão; a vida nem sempre é fácil e o mundo pode ser um lugar vil e torpe onde há homens que têm prazer em mutilar crianças e envenenar cães, mas se formos bons, a vida traz-nos as pessoas certas que nos podem proteger e cuidar de nós.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Por vezes a Verdade tem de viver no Silêncio, bem escondida e a Mentira tem de ser posta em vigor. Porquê? Porque a Verdade por vezes parecem facas que nos espetam na carne e a Mentira conta aquilo que se quer ouvir.
Atenção, digo "por vezes" e apenas em situações extremas. Já vivi muito tempo no silêncio, com muita verdade retraída, o que me fez sofrer imenso em muitas situações do passado. Hoje orgulho-me de dizer que estou a combater esse mesmo problema, e tudo foi disparado pela falta de alguém que partiu na minha infância.
Meu conselho? Não vivam do Silêncio pois ele prejudica a olhos vistos... Não retraiam sentimentos, mostrem o que sentem e mais importante, viver a vida fora e longe do Silêncio.

Eu também tenho um Lucas na minha vida, chamado Yuri, meu castro laboreiro lindo, e sei que um dia ele vai partir, mas nunca irá sair da minha vida, pois terá sempre lugar no meu coração.

Bjinho

4:19 PM  
Blogger Conchita said...

Dave...essas facas que se nos espetam na carne...só nos ajudam a sobreviver às intemperies da vida:)
É importante, muito importante certas presenças na nossa vida...principalmente na infancia...Quando era pukanina,e as manas iam de férias pra quinta e eu ficava em casa c minha mae..n dia em k elas iam pra quinta eu ficava doente...xeia de febre..e dizia sempre "quando as manas vierem da quinta eu fico boa"..e assim era..nem o Lucas, nessas alturas me ajudava o suficiente..so qd as manas xegavam é que me passava a febre:)
Também o Lucas viveu uma vida e partiu...numa altura em que nao deveria ter partido...quando estava a perder as peças mais importantes da minha vida...foi o pior verão, perdi akeles que me acompanharam,me fixeram sorrir..e que me ajudaram em toda a infancia...mas aprendi com eles que nao vivesse no silêncio, e depois de os ver partir..cada vez que sinto um silencio a caminhar n rua pra minha vida...fujo dele como o Diabo da Cruz..:)

4:47 PM  

Post a Comment

<< Home